26/03/24

Capacitação TJC: segunda aula do curso apresenta as etapas de realização do Programa

Aula foi ministrada pela juíza aposentada Ana Espí (Amatra 3/MG)
25/03/24

Anamatra prestigia posse de novos dirigentes do TRT 10 (DF/TO)

Desembargador José Ribamar Oliveira Lima Junior é o novo presidente do Regional
24/03/24

Alteração estatutária: Anamatra convoca Assembleia Geral Extraordinária

 Deliberação refere-se ao prazo para implementação de deliberações do Conamat
25/03/24

21º Conamat: Comissão Organizadora realiza nova reunião virtual

Evento acontecerá em Foz do Iguaçu (PR), de 1º a 4 de maio

O portador de necessidades especiais e o trabalho

Por Vinícius Alencar de Carvalho (*)

(*)  Por Vinícius Alencar de Carvalho, deficiente visual, Técnico Judiciário na Vara do Trabalho de Guaxupé / MG , trabalha como digitador, junto ao Juiz Titular Jairo Vianna Ramos

         INTRODUÇÃO

 

 

          As condições sociais dos portadores de deficiência, ou de "necessidades especiais", como manda o "politicamente correto", têm, felizmente, apresentado avanços nas últimas décadas. Se antes aquele que tinha alguma limitação física convivia com o estigma de incapaz, vendo-se e sendo visto como um estorvo social, hoje observamos a presença eficiente de portadores de deficiência em várias áreas, seja como profissionais liberais, servidores públicos ou trabalhadores dos setores de produção. Além disso, a participação brilhante de atletas paraolímpicos brasileiros em eventos internacionais chama a atenção da sociedade para as potencialidades do deficiente em geral.

         Entretanto, muito ainda há a se avançar, em termos de igualdade de oportunidades para os deficientes. Algumas ações públicas e mesmo de instituições criadas para defender os interesses dessa minoria pendem muito mais para um paternalismo alienante que para um real contributo para o desenvolvimento integral daquele que tem necessidades especiais. Nessa linha, podemos citar a aposentadoria paga pelo Governo Federal a portadores de deficiência. É evidente que um deficiente não tem a mesma possibilidade laborativa de um dito "normal"; todavia, os recursos públicos seriam mais bem empregados se fossem utilizados na capacitação maciça de professores para lidar com os chamados "alunos especiais", na promoção de cursos profissionalizantes e na contratação de profissionais de saúde, incluindo psicólogos, para um trabalho, junto ao deficiente e sua família, de reabilitação e desenvolvimento das potencialidades daquele. Ocorre que não só governos, mas os mais variados setores da sociedade quase sempre buscam fazer o que é mais fácil, ao invés de realizarem o correto.

         O deficiente não precisa apenas sobreviver, recebendo um salário mínimo do Estado; ele tem necessidades variadas, como qualquer ser humano, de crescimento emocional, intelectual, psicológico, profissional e econômico. Em qualquer contexto em que estiver inserido o portador de necessidades especiais, tais fatores não devem ser desconsiderados.

 


        
OS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA E O DESEMPENHO NO TRABALHO

 

         Para que haja igualdade de oportunidades entre deficientes e não deficientes, é importantíssima a compreensão de que os primeiros não são super-heróis, quando conseguem algo de bom, nem completos incapazes, por não poderem realizar algumas coisas da forma utilizada pela maioria para tal. Compreendendo que o deficiente não é nem incapaz nem super-herói, os empregadores e chefes passam a vê-los como trabalhadores como os outros, com a diferença de terem algumas necessidades diversas das dos demais. A partir dessa percepção, torna-se possível a quem dirige a prestação de serviços de um deficiente ajudá-lo a desenvolver ao máximo seu potencial, para que possa ter um desempenho cada vez mais produtivo no trabalho.

         Por outro lado, o deficiente precisa, ainda mais que os "normais", desenvolver suas potencialidades, a fim de que consiga não só entrar no mercado de trabalho, mas executar com eficiência as funções que estiverem a seu alcance. Não deve o deficiente pensar que, porque a lei lhe reserva vagas no serviço público e na iniciativa privada, pode ser menos eficiente que os demais trabalhadores. O senso de dignidade humana impõe que qualquer pessoa, deficiente ou não, honre o seu salário e busque realizar da forma mais eficiente possível as suas atribuições.

         Para que o portador de necessidades especiais seja um bom profissional, portanto, faz-se mister que ele se esforce e que aqueles que com ele laboram estejam dispostos a auxiliá-lo, não fazendo o seu trabalho ou lhe dando "serviço mole", mas na busca de alternativas e adaptações que tornem mais amplo o leque de atividades que ele pode realizar com bom resultado.

 


        
O DEFICIENTE E A ACESSIBILIDADE

 

         No campo das medidas práticas, para que seja facilitada a entrada, a continuidade e a eficiência do portador de deficiência no mercado de trabalho, é indispensável a eliminação de uma série de barreiras de acessibilidade. Não só os prédios públicos e privados devem adequar-se às necessidades dos deficientes, com colocação, por exemplo, de rampas para cadeirantes, painéis em braille nos elevadores e adaptação de banheiros, mas também as páginas na Internet devem ser produzidas de maneira a possibilitar o acesso por parte da minoria deficiente. É surpreendente o número de endereços na grande rede que apresentam dificuldades de acesso para deficientes visuais, inclusive vários públicos, como o da Receita Federal, na área de consulta de restituição de Imposto de Renda. A utilização de famigerados códigos visuais que funcionam como senha para se acessar certos endereços é um verdadeiro entrave para quem não enxerga. É exemplo de acessibilidade a página da Caixa Econômica Federal.

         Não é difícil tornar uma página acessível a portadores de deficiência. Basta tomar medidas simples, como a descrição de imagens, a sonorização de códigos que precisem ser digitados, a apresentação, em Libras, de mensagens faladas e o emprego de formatos simples, como o HTM.

 


        
A JUSTIÇA DO TRABALHO E O DEFICIENTE

 

         Sendo a Justiça do Trabalho a guardiã dos direitos do trabalhador e vanguardista em várias áreas, cabe-lhe um papel importantíssimo na promoção do labor daqueles que portam necessidades especiais. Essa especializada emprega em seus quadros pessoas com variadas deficiências e tem mostrado que é totalmente possível criar as condições próprias para que tais pessoas laborem com eficiência e dignidade.

 

         SE CADA UM FIZER A SUA PARTE...

 

         O deficiente, em geral, tem totais condições de se realizar profissionalmente. Se ele deseja crescer nesse campo, muitos limites ditos intransponíveis caem.

         As entidades de e para portadores de necessidades especiais precisam voltar-se maciçamente para a capacitação dessas pessoas, para que consigam entrar no mercado de trabalho, conhecer seus direitos, obrigações e capacidades. Cabe-lhes, também, pressionar o Ministério Público do Trabalho para que fiscalize o cumprimento das cotas para deficientes nas empresas.

         Os empregadores precisam voltar-se para o aproveitamento das muitas potencialidades que pode ter um portador de deficiência, esquecendo a idéia que alguns têm de dar emprego a um membro desse grupo de pessoas por piedade.

         É função estatal garantir o cumprimento das leis já existentes, o seu aprimoramento e a criação de novos dispositivos que visem a diminuir o número de portadores de necessidades especiais que vivem às custas do Estado, de parentes ou da caridade pública. É fundamental, também, que as escolas especializadas não sejam depósitos de deficientes e que a inclusão na escola regular seja feita de forma responsável, justa e não paternalista. Não adianta apenas garantir ao deficiente uma vaga na escola comum; é preciso garantir a ele ensino de qualidade e condições de estudo compatíveis com suas características.

         Assim, com cada grupo fazendo sua parte, certamente teremos, em poucos anos, a oportunidade de ver uma melhoria notável no padrão de vida das pessoas portadoras de necessidades especiais, impulsionada pelas melhores oportunidades e condições de trabalho.

SHS Qd. 06 Bl. E Conj. A - Salas 602 a 608 - Ed. Business Center Park Brasil 21 CEP: 70316-000 - Brasília/DF
+55 61 3322-0266
Encarregado para fins de LGPD
Dr. Marco Aurélio Marsiglia Treviso
Diretor de Assuntos Legislativos da Anamatra
Utilizamos cookies para funções específicas

Armazenamos cookies temporariamente com dados técnicos para garantir uma boa experiência de navegação. Nesse processo, nenhuma informação pessoal é armazenada sem seu consenso. Caso rejeite a gravação destes cookies, algumas funcionalidades poderão deixar de funcionar.